O Grande Circo Místico – O gozo místico de Lacan
Filme de Cacá Diegues, baseado no poema de Jorge de Lima, narra a história
de cinco gerações de uma mesma família circense, desde a inauguração do Grande
Circo Místico em 1910 até os tempos atuais, onde os amores desta família são mostrados
a partir de uma época farta até a sua decadência econômica familiar na atualidade.
Amor, paixão entre os personagens, que retratam o sempre presente amor ao circo,
onde os homens da família e o marcante mestre de cerimônias lutam pela
sobrevivência desse fabuloso espetáculo.
O gozo está presente desde o início do filme através de paixões
exacerbadas, trazendo temas de virgindade, maternidade, paixão, adultério,
droga, loucura, morte. As mulheres gozam pelo olhar, objeto a, pelo voo libertário e ao mesmo tempo
mortal, pela dança que busca o infinito, pelo gozo da carne, pela marca na
carne, pelo voar dos anjos.
“O grande circo místico” de Cacá Diegues, pode ser pensado pela temática
do gozo desenvolvida por Lacan. É uma versão cinematográfica que se aproxima ao
gozo místico apresentado por Lacan no Seminário 20, “Mais, ainda” (Encore), gozo que está mais além. Santa
Teresa de Ávila em escultura de Bernini goza. O êxtase de Santa Teresa representa
a sua experiência mística, êxtase fora da linguagem, onde nada se pode dizer.
Na Idade Média duas concepções de amor estão presentes. A concepção
física e a concepção extática. Na concepção física (physis), desenvolvida por São Tomás de Aquino e Aristóteles, a
busca é do Bem em Aristóteles, e de Deus em São Tomás de Aquino. Já na
concepção extática do amor a razão desaparece, sendo o amor relatado pelos
místicos. No êxtase a ação está fora de si. O amor é dual, violento,
irracional. A harmonia do amor físico é o oposto ao amor extático. O sujeito
perde a sua alma, sendo que o amor pode ser mortal. É um gozo para além do
princípio do prazer.
No Seminário 20, nas fórmulas da sexuação, Lacan situa o gozo místico do
lado feminino, um gozo fora do significante. Santa Teresa de Ávila mostra que
“falar é impossível” sobre este gozo.
Referência bibliográfica:
Lacan, J. Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1985.
Quinet, A. Teoria e clínica da
psicose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.