A
Grande Beleza.
Filme dirigido por Paolo Sorrentino
Rosa Jeni Matz
Em
Roma, um escritor pensa sobre a sua vida, passado e presente. Escreveu um livro
de sucesso, e não termina nenhum outro livro que inicia. Frequenta festas
luxuosas, com drogas e excessos. No
terraço com vista para o Coliseu, um grupo de “amigos” se reúne, entre eles uma
editora anã. Falam de Roma, da vida, de perdas: a decadência de Roma hoje.
Uma religiosa será entrevistada por ele. Há um encontro, um momento,
uma cena mágica, onde os animais alados pousam no terraço. A religiosa
questiona o porquê dele não escrever mais. Ele responde que busca “a grande
beleza”. E ela lhe diz porque come “raízes”: é bom voltar para o princípio.
Em Lacan, este é um filme sobre o gozo, a
Coisa = A Grande Beleza, o objeto a, objeto para sempre perdido. Em Freud,
também em Lacan, na experiência de satisfação, a primeira, o início, é onde se
dá o encontro com a Coisa, Das Ding, que é um "complexo". O objeto a é
o resultado deste encontro (objeto causa de desejo, e mais-valia, objeto do
gozo) onde acontece a perda do objeto, saímos do Paraíso, do encontro com a
Grande Beleza = Coisa (Mãe, "desejo incestuoso"). A beleza e o
horror, a feiúra, 2 faces de uma mesma moeda.
No início de vida há a perda do objeto, é a
raiz. Como escrever outro livro? Como é possível escrever outro livro da nossa
vida? Há Um. A feiúra da cara da religiosa é o horror, o medo da castração. Ela
sobe as escadas, sacrifica seu corpo, e goza frente à imagem santa. Este é o
gozo do místico que Lacan comenta no Seminário 20, Encore.
Outros cineastas italianos, Fellini, Pasolini, mostraram a
decadência romana. Uma das formas do gozo do Outro, é a decadência. A vida do
corpo é uma queda, de-cai. Este filme é sobre o início e o fim, da vida e da
morte: sexo e morte.