A ética do desejo
Rosa Jeni Matz
Em Totem e
Tabu, mito da horda primeva, Freud elabora a fundação da cultura através do ato
criminoso do assassinato do pai da horda, e do devoramento deste pai despótico
pelos filhos. No lugar de uma lei tirânica, onipotente do pai, surge um acordo
entre os irmãos culpados, criando-se a lei simbólica, à qual todos estão
assujeitados. Esta lei se refere ao pai morto, constituindo a dívida simbólica.
Portanto, a lei e o desejo se enlaçam num liame trágico. O desejo incestuoso é
barrado pela lei, tornando-se falta, falta a ser. O desejo é o movimento de
busca de reencontro do objeto perdido, mas como o objeto é para sempre perdido,
o encontro é faltoso. A lei estrutura o desejo humano, impedindo a realização
do incesto. A ética do desejo é uma ética de responsabilidade, implicando que o
sujeito não ceda de seu desejo frente ao gozo, desejo que o humaniza, o
essencializa, tornando-o humano, protegendo-o do gozo, que seria um excesso,
ultrapassagem da barreira da lei.
Enquanto
que para Aristóteles a eudaimonia poderia ser atingida pelo conhecimento do
Bem, para a psicanálise este Bem (das Ding) se perdeu. A felicidade (bonheur)
seria uma questão de sorte, numa boa hora o sujeito pode ter um bom encontro
com o real. Mas, o sujeito teve um trágico encontro com o real. O trauma é este
trágico encontro, encontro marcado.
A sublimação seria a possibilidade que a civilização oferece de manifestação de alguma coisa diferente da sintomatologia do mal-estar. Das Ding, a Coisa, nunca é possuída ou representada, é sempre perdida e repetida em nossas vidas. Lacan define a sublimação como “a elevação de um objeto à dignidade da Coisa”. A sublimação não representa essa Coisa perdida, ela recria o vazio (vide) deixado por essa perda, estruturalmente irrepresentável para o sujeito. Mediante a recriação a perda do objeto descobriria outro destino diferente da angústia, da neurose.
A sublimação seria a possibilidade que a civilização oferece de manifestação de alguma coisa diferente da sintomatologia do mal-estar. Das Ding, a Coisa, nunca é possuída ou representada, é sempre perdida e repetida em nossas vidas. Lacan define a sublimação como “a elevação de um objeto à dignidade da Coisa”. A sublimação não representa essa Coisa perdida, ela recria o vazio (vide) deixado por essa perda, estruturalmente irrepresentável para o sujeito. Mediante a recriação a perda do objeto descobriria outro destino diferente da angústia, da neurose.
Bibliografia
França, M.I. Psicanálise, estética e ética do desejo. São Paulo: Perspectiva, 1997.Lacan, J. A ética da psicanálise. RJ: Jorge Zahar, 1988.
Rajchman, J. Eros e verdade: Lacan, Foucault e a questão da ética. RJ: Jorge Zahar, 1993.
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