Quatro conceitos em Lacan: Imaginário, Simbólico, Real e Autre (Outro).
Rosa Jeni Matz
Lacan explicita
o campo psicanalítico através de 3 registros: Imaginário, Simbólico e Real,
registros essenciais da realidade humana (réalité humaine).
Imaginário.
Modalidades do Imaginário.
- No estádio especular se funda a relação narcisista
entre a criança e a mãe, relação dual estruturada pela imagem do semelhante
(semelhante = outro, autre), constituindo o eu (moi) da criança
através de uma identificação imaginária com a mãe (eu-ideal), que se torna uma
“unidade” ilusória de seu corpo, gestalt ilusória, pois o sistema motor
e o sistema nervoso do infans (que ainda não fala) não se encontram
desenvolvidos, devido a prematuração específica do nascimento no homem. A
criança sai do momento do corpo despedaçado. O espelho funciona como Autre (Outro),
pois se espera que a mãe ao entrar nesta relação com a criança já seja cortada
anteriormente pela linguagem (Simbólico), senão acarreta casos de psicose.
- É o registro das imagens, da ilusão, do engano, da
fascinação, da captação da imagem que determina a submissão da criança ao olhar
do outro, captação imaginária do duplo, e do transitivismo entre as crianças
colocadas uma frente à outra (a criança que bate diz que apanha), da confusão
entre si e o outro, da agressividade.
Simbólico
O registro do Simbólico baseia-se em
descobertas da antropologia estrutural e da lingüística. O simbolismo social,
cultural e lingüístico impõe-se como ordens anteriores, já constituídas para o infans,
que será modelado segundo as estruturas destas ordens. A entrada da criança na
ordem simbólica será pelo Édipo (os três momentos do Édipo em Lacan, sendo que
no terceiro momento se dá o acesso da criança ao simbólico através da metáfora
paterna, sustentada pelo recalque originário, que é estruturante, simbolização
primordial da lei, metaforização efetuada através da substituição do
significante do desejo da mãe pelo significante Nome-do-Pai), e pelas
estruturas da linguagem.
“O
inconsciente é estruturado como uma linguagem”, sendo o recalcado constituído
por significantes que se organizam numa rede de combinações metafóricas e
metonímicas (influências de Saussure e Jakobson). O sujeito é efeito da cadeia
de significantes inconsciente.
O
interdito do incesto (Lei) organiza a entrada da criança no social. A lei
instaura as relações mediatas, por meio do símbolo, passando a criança de uma
relação imediata com a mãe para uma relação mediata, graças à instauração da
ordem simbólica pela entrada do pai, Nome-do-Pai, instituindo a falta pela
castração.
Modalidades do Simbólico.
- o reconhecimento do sujeito, da palavra (plena), do ato,
da responsabilidade, da verdade (meia-verdade), do saber, do desejo em relação
à lei, se dá neste espaço/tempo de ordenamento simbólico.
Real
Campo
propriamente lacaniano, discernido pela modalidade lógica do impossível, não
cessando de não se escrever, ex-sistindo a imaginarização e à simbolização.
Modalidades do Real.
- O real escapa à simbolização, se situando à margem da
linguagem, embora tentamos apreender pedaços do real por intermédio do
simbólico.
- O real é sem lei, não tem ordem, sem fendas. Pelo real
aproximamos à categoria do gozo, que aponta para o excesso, tensão que
ultrapassa um limite, e ao objeto a. O objeto a apresenta uma
face como objeto causa de desejo, e outra face como resto, mais-gozar, que não
é simbolizável, sendo partes destacáveis do corpo: seio, fezes, olhar e voz.
- O estatuto da Coisa (das Ding), alguma coisa isolada da
cadeia significante, e a repetição, uma coisa não pode ser substituída por
outra por não poderem se tornar significantes.
- A impossibilidade da relação sexual (il n’y a pas de
rapport sexuel) – Lacan não afirma que as pessoas não têm relações sexuais,
mas como Freud, diz que só há libido masculina, logo não há no inconsciente
significante de/para mulher, a mulher não existe, portanto impossibilidade de
relação/razão (simbólica) entre os 2 sexos. Em termos de lógica simbólica e
teoria dos conjuntos só os homens são circunscritos pela função fálica, sendo
as mulheres não-todas nesta função.
Autre
– A -Outro
- A Outra cena, é um lugar onde se situam os elementos
significantes, marcando a determinação simbólica do sujeito, articulando o
inconsciente: “O inconsciente é o discurso do Outro”, “o inconsciente é
estruturado como uma linguagem”. São as relações significantes que obedecem às
leis da linguagem, determinando a constituição do sujeito desde o nascimento.
- Lugar do código, linguagem, lei.
- É do Autre que se trata na função da fala.
- “O desejo do homem é o desejo do Outro”, onde o sujeito se
pergunta “o que quer o Outro?”.
- Modalidades: lugar do tesouro dos significantes, como Pai e
Mãe (primeiros Outros da linguagem), desejo do Outro, demanda do Outro, gozo do
Outro, Deus, o inconsciente.
- Autre barrado – Outro como falta, incompleto
estruturalmente.
Referências
Fink, B. O sujeito lacaniano. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
Lemaire,
Anika. Jacques Lacan: uma introdução. Rio de Janeiro: Campus, 1979.
Lacan, J. Seminários
1, 5, 7, 11, 22, 23. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Lacan, J. Escritos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1998.
Roudinesco, Elizabeth e Plon,
Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998.
Vallejo,
A. e Magalhães, L. Lacan: Operadores da Leitura. São Paulo: Ed.
Perspectiva, 1991.
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