quinta-feira, 30 de maio de 2013

Imaginário, Simbólico, Real, Autre

          Quatro conceitos em Lacan: Imaginário, Simbólico, Real e Autre (Outro).
                                                                                            Rosa Jeni Matz
 
Lacan explicita o campo psicanalítico através de 3 registros: Imaginário, Simbólico e Real, registros essenciais da realidade humana (réalité humaine).

Imaginário.

Modalidades do Imaginário. 
- No estádio especular se funda a relação narcisista entre a criança e a mãe, relação dual estruturada pela imagem do semelhante (semelhante = outro, autre), constituindo o eu (moi) da criança através de uma identificação imaginária com a mãe (eu-ideal), que se torna uma “unidade” ilusória de seu corpo, gestalt ilusória, pois o sistema motor e o sistema nervoso do infans (que ainda não fala) não se encontram desenvolvidos, devido a prematuração específica do nascimento no homem. A criança sai do momento do corpo despedaçado. O espelho funciona como Autre (Outro), pois se espera que a mãe ao entrar nesta relação com a criança já seja cortada anteriormente pela linguagem (Simbólico), senão acarreta casos de psicose.
- É o registro das imagens, da ilusão, do engano, da fascinação, da captação da imagem que determina a submissão da criança ao olhar do outro, captação imaginária do duplo, e do transitivismo entre as crianças colocadas uma frente à outra (a criança que bate diz que apanha), da confusão entre si e o outro, da agressividade.

Simbólico

      O registro do Simbólico baseia-se em descobertas da antropologia estrutural e da lingüística. O simbolismo social, cultural e lingüístico impõe-se como ordens anteriores, já constituídas para o infans, que será modelado segundo as estruturas destas ordens. A entrada da criança na ordem simbólica será pelo Édipo (os três momentos do Édipo em Lacan, sendo que no terceiro momento se dá o acesso da criança ao simbólico através da metáfora paterna, sustentada pelo recalque originário, que é estruturante, simbolização primordial da lei, metaforização efetuada através da substituição do significante do desejo da mãe pelo significante Nome-do-Pai), e pelas estruturas da linguagem.
“O inconsciente é estruturado como uma linguagem”, sendo o recalcado constituído por significantes que se organizam numa rede de combinações metafóricas e metonímicas (influências de Saussure e Jakobson). O sujeito é efeito da cadeia de significantes inconsciente.
O interdito do incesto (Lei) organiza a entrada da criança no social. A lei instaura as relações mediatas, por meio do símbolo, passando a criança de uma relação imediata com a mãe para uma relação mediata, graças à instauração da ordem simbólica pela entrada do pai, Nome-do-Pai, instituindo a falta pela castração.

Modalidades do Simbólico.
- o reconhecimento do sujeito, da palavra (plena), do ato, da responsabilidade, da verdade (meia-verdade), do saber, do desejo em relação à lei, se dá neste espaço/tempo de ordenamento simbólico.

Real

Campo propriamente lacaniano, discernido pela modalidade lógica do impossível, não cessando de não se escrever, ex-sistindo a imaginarização e à simbolização.

      Modalidades do Real.
- O real escapa à simbolização, se situando à margem da linguagem, embora tentamos apreender pedaços do real por intermédio do simbólico.
- O real é sem lei, não tem ordem, sem fendas. Pelo real aproximamos à categoria do gozo, que aponta para o excesso, tensão que ultrapassa um limite, e ao objeto a. O objeto a apresenta uma face como objeto causa de desejo, e outra face como resto, mais-gozar, que não é simbolizável, sendo partes destacáveis do corpo: seio, fezes, olhar e voz.
- O estatuto da Coisa (das Ding), alguma coisa isolada da cadeia significante, e a repetição, uma coisa não pode ser substituída por outra por não poderem se tornar significantes.
- A impossibilidade da relação sexual (il n’y a pas de rapport sexuel) – Lacan não afirma que as pessoas não têm relações sexuais, mas como Freud, diz que só há libido masculina, logo não há no inconsciente significante de/para mulher, a mulher não existe, portanto impossibilidade de relação/razão (simbólica) entre os 2 sexos. Em termos de lógica simbólica e teoria dos conjuntos só os homens são circunscritos pela função fálica, sendo as mulheres não-todas nesta função.

Autre – A -Outro
- A Outra cena, é um lugar onde se situam os elementos significantes, marcando a determinação simbólica do sujeito, articulando o inconsciente: “O inconsciente é o discurso do Outro”, “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. São as relações significantes que obedecem às leis da linguagem, determinando a constituição do sujeito desde o nascimento.
-  Lugar do código, linguagem, lei.
- É do Autre que se trata na função da fala.
-  “O desejo do homem é o desejo do Outro”, onde o sujeito se pergunta “o que quer o Outro?”.
- Modalidades: lugar do tesouro dos significantes, como Pai e Mãe (primeiros Outros da linguagem), desejo do Outro, demanda do Outro, gozo do Outro, Deus, o inconsciente.
- Autre barrado – Outro como falta, incompleto estruturalmente.

Referências
Fink, B. O sujeito lacaniano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
Lemaire, Anika. Jacques Lacan: uma introdução. Rio de Janeiro: Campus, 1979.
Lacan, J. Seminários 1,  5, 7, 11, 22, 23. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Lacan, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
Roudinesco, Elizabeth e Plon, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
Vallejo, A. e Magalhães, L. Lacan: Operadores da Leitura. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1991.   

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